É preciso entender que isso não é novo. O adolescente torturado por seguranças do supermercado Ricoy, na zona sul, em São Paulo, viveu o horror do racismo, opressão FUNDANTE da sociedade brasileira.
O negro foi colocado como ser outro, aquele que foi constituído na oposição da norma. Um não ser, antítese, praticando aquilo que Mbembe chamou de alterocídio, que consiste em “constituir o outro não como semelhante a si mesmo, mas como objeto intrinsecamente ameaçador, do qual é preciso proteger-se, desfazer-se, ou destruir (quando não se pode controlar)”.
A população negra sofreu castigos durante a escravidão que vão desde a separação das famílias, pois crianças também eram mercadorias, a mutilações, marca de identificação com ferro quente, máscaras de ferro.
Nos EUA, a canção "Strange fruit " narra a presença de "corpos estranhos" pendurados em árvores. A origem do termo linchamento, vem de Willian Lynch, conhecido por castigar pesada e severamente pessoas negras escravizadas. E que essa lógica ainda perdura atingindo, majoritariamente, homens negros, como forma de punição e controle social.
É preciso discutir seriamente racismo como estrutura. A violência cometida contra esse adolescente não é algo novo, infelizmente. Vivemos momentos duros nesse país, mas é preciso conhecer a história, debater colonialismo de fato. Mas, em meio a movimentos progressistas que mais parecem movimento supremacista branco, cegueira diante do racismo, pseudos revolucionários agindo como capatazes, pessoas preocupadas com um projeto de poder em vez de um projeto de sociedade, percebemos que temos muito caminho pela frente. Como disse o grande pensador Aílton Krenak: "estamos afundados no colonialismo até o pescoço".
TEXTO DE DJAMILA RIBEIRO
