A previsão econômica é um campo notoriamente desafiador, e mesmo eu não posso me eximir dessa realidade. No entanto, o que podemos oferecer é uma análise da direção e ritmo do crescimento econômico, mesmo que esta seja, por vezes, vaga. O ano de 2023 tem sido um surpreendente ponto de virada para a economia brasileira. No final de 2022, as projeções apontavam para um crescimento do PIB de apenas 0,8%, o que sugeriria uma estagnação prolongada. No entanto, tanto o primeiro como o segundo trimestres de 2023 superaram as expectativas, e isso pode resultar em um crescimento de cerca de 3% para o ano, graças ao chamado "carry over estatístico". Embora este crescimento seja encorajador, a formação bruta de capital fixo e a taxa de investimento ainda apresentam fraquezas, levantando dúvidas sobre a sustentabilidade a médio prazo. No entanto, esse é um padrão normal; primeiro, o consumo cresce, o que leva a uma maior utilização da capacidade de produção, e em seguida, os investimentos se expandem. A pesquisa Focus, que reúne projeções de economistas de mercado, agora prevê um crescimento um pouco mais elevado, em torno de 2,6% para 2023. No entanto, eles continuam conservadores, prevendo apenas 1,3% para 2024. Talvez subestimem novamente o potencial do PIB, mas essa cautela é comum no mundo das previsões econômicas. O que causou essa recuperação surpreendente? A retrospectiva aponta para a importância da PEC de transição, aprovada em dezembro de 2022. Ela permitiu uma flexibilização no teto de gastos do governo, possibilitando gastos urgentes, tanto do ponto de vista político, social e econômico. O aumento gradual do salário mínimo, melhorias no Bolsa Família e isenções de imposto de renda estimularam o consumo das famílias mais pobres. Além disso, o reinício de obras públicas impulsionou o investimento agregado. Esses fatores concretos impulsionaram a demanda agregada e, consequentemente, a atividade econômica e o emprego. No entanto, existem fatores menos tangíveis, como a dinâmica de recuperação após um período de dificuldades prolongadas, que também contribuem para o cenário atual. A melhoria da economia teve reflexos positivos no mercado de trabalho. A taxa de desemprego caiu, a renda real dos trabalhadores aumentou e o consumo reagiu, parcialmente devido à demanda reprimida durante a pandemia. Embora haja motivos para otimismo, é importante manter as expectativas realistas. O crescimento do PIB ainda é modesto, e parte significativa dele se deve ao desempenho do setor primário exportador. Agora, a chave para a sustentabilidade da recuperação está no estímulo ao investimento. O novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e uma política monetária mais flexível podem desempenhar papéis fundamentais. Além disso, a busca por um déficit primário zero em 2024 é essencial, sem prejudicar o PAC e, se politicamente viável, com a tributação dos super-ricos. Mantendo um ritmo de crescimento em torno de 4% ao ano, o Brasil pode finalmente deixar para trás o período de estagnação e consolidar sua posição como a 8ª maior economia do mundo em termos de PIB por paridade de poder de compra. O caminho é desafiador, mas a recuperação econômica brasileira é notável e merece atenção cuidadosa.